Resenha: Deuses Americanos…

17 agosto 2015 Falando de Livros
Shadow é um ex-presidiario sem perspectivas que cumpriu três anos de prisão, liberado antes do fim de sua penado devido a morte de sua esposa. Ela era a única coisa que ainda mantinha a esperança de Shadow viva. Agora morta, já não tinha mais perspectiva nenhuma. No avião de volta para casa foi abordado por um estranho chamado Wednesday, o único a lhe oferecer uma oportunidade e um emprego. Um em que consistia percorrer a América realizando alguns serviços.
Essa é a linha da trama, mas obviamente por ser um livro de Neil Gaiman, há uma profundidade muito maior.
“…Shadow estava em um lugar escuro, e a coisa que olhava para ele tinha uma cabeça de búfalo, fedida e peluda, com enormes olhos úmidos. O corpo da criatura era de homem, oleoso e pegajoso.
– Mudanças estão vindo por aí – disse o búfalo, sem mover os lábios – Há certas decisões que precisam ser tomadas.
Chama ardiam nas paredes úmidas da caverna…
– Acredite – disse a voz ribombante. – Se você sobreviver, precisa acreditar.
– Acreditar em que? – perguntou Shadow. – Em que devo acreditar?
– Em tudo – rugiu o homem búfalo…”
Trecho da sinopse apresentada no próprio livro…
Deuses americanos é uma obra que aborda religiosidade. Mas precisamente o que é ser um “Deus”, ou melhor o que define uma divindade.
No plano de fundo, no decorrer da história, é possível perceber uma guerra. Um embate entre os novos deuses – dinheiro, internet, televisão, sistema de crédito – contra os antigos, que foram trazidos para América pelos mais diversos imigrantes. Nessa batalha entre deuses é possível também encontrar um choque entre os valores americanos – antigos e modernos – e por consequência um questionamento acerca dos valores da sociedade ocidental.. Debates intensos são travados e nem sempre é possível saber qual é o ponto de vista mais sensato. Os argumentos são todos sedutores.
Mas há um questionamento mais profundo ainda…
Mas o que torna possível a existência de um deus?
A fé, o fato das pessoas acreditarem torna tudo possível. Assim como sacrifícios eram feitos em homenagem à deuses que eram venerados em tempos remotos. Com a ascensão do cristianismo e das demais religiões monoteístas, esses antigos deuses foram perdendo força. As pessoas deixaram de acreditar.
De certa forma o “consumo” hoje é mais cultuado do que qualquer outro valor. Por isso, os novos deuses americanos são os mais fortes, os mais bem preparados para ganhar a peleja. Gaiman aproveita seu romance para tecer diversas críticas a nossa sociedade ocidental. Os deuses podem assumir um papel de metáfora dentro da obra. O que torna o livro uma obra além da religiosa, mas também política, econômica e social. A genialidade de Neil Gaiman está em abordar pontos polêmicos através de suas metáforas.
Os deuses mais antigos foram relegados ao esquecimento, por isso são tão fracos. E alguns ainda vivem empregados em meio a sociedade, ou até mesmo em negócios ilícitos na América. Tem uma passagem sensacional que aborda um divindade que atualmente dirige um táxi para sobreviver.
O mais antigo tornou-se inútil, e por isso descartado assim como o que acontece com o que é ultrapassado em nossa sociedade. Não há espaço para o que foi ultrapassado.
O enredo desenvolve-se através da figura de Shadow, a principal peça desse tabuleiro. O universo é desvendado pela perspectiva dele, uma vez que ele desconhece tudo assim como o leitor. Shadow é o personagem responsável por introduzir o leitor à essa loucura que são as narrativas de Gayman. Shadow abre as portas de universo misterioso, desenvolvendo cada ponta, através de sua viagem pela América, quase como um turista. Quase como uma criança a procura de repostas.
Mas o que é essa guerra ?
É um conflito final que pode decidir quais deuses prevalecerão. Um choque entre quais serão os valores vencedores na América, na sociedade ocidental.
Esse livro é considerado um dos mais influentes pelo simples fato de nada ser tao simples assim. Aliás, como tudo no universo de Neil Gaiman. A fantasia da história é uma metáfora, que funciona como uma mecanismo para questionarmos nossos valores, e onde possivelmente chegaremos com esses valores.
Será que o capital deve ser tão valorizado assim a ponto de ficar acima de todos os demais?
Esse é um questionamento que só termina dentro da cabeça do próprio leitor.
Deuses americanos é uma obra de fantasia mais real do que podemos imaginar….

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Bjss, abraços e aperto de mão..
Essa foi mais uma postagem do Sr.Marido que escreveu e saiu correndo para terminar o próximo livro…

1 Comentário

  • Sou apaixonada por esse livro, na verdade sou apaixonada por tudo do Neil Gaiman. Sugiro muito você ler os filhos de Anansi, que é do mesmo arco dos Deuses Americanos. É bem legal.


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