Conversa de café: Zumbis, George Romero e cultura pop

8 janeiro 2018 Falando de Livros
donnarita - conversa de cafe - srmarido - zumbis - culturapop - romero
Cérebro!!!
Queridos e queridas…

Bem vindos a mais um conversa de café, depois de um recesso merecido. Hoje tirei o dia para escrever sobre, o que talvez seja, a criatura mais icônica da cultura pop. Siiimm!!!! Vamos papear um pouco sobre os nossos queridos e amados zumbis, desde a sua origem até o mito pop em que se tornaram. Afinal de contas, que nunca ficou fascinado com um apocalipse zumbi.

Mas para compreender esse fenômeno da cultura pop, temos que dar uma pincelada bem marota no contexto histórico, no ares que cercavam a criação do mito.

donnarita - conversa de cafe - srmarido - zumbis - culturapop - romero
De 1915 a 1934, os americanos estavam em sua política de levar a “liberdade” e a “democracia” para os países do Caribe, que era considerado um grande quintal norte americano. A situação tava meio bagunçada por lá. Para se ter uma ideia, entre 1911 e 1915, os haitianos tiveram cerca de seis presidentes, sendo a maioria deposta através de golpes. Toda essa instabilidade foi criada devido ao processo de colonização. A saída da figura do colonizador deixou um vácuo no poder, sendo disputado entre diversos setores sociais, o que não foi muito bem resolvido até os dias de hoje. 

Os americanos, “altruístas” e “bondosos” como sempre movidos sem nenhum interesse financeiro, se acharam no direito de intervir e preservar os seus próprios interesses no simpático país caribenho. Esse foi o cenário do choque cultural. O jovens americanos, muitos criados a leite com pêra, entraram em contato pela primeira vez com o mito africano do “zumbi”.

Isso mesmo, as raízes da figura do zumbi são africanas e foram trazidas para América através do processos de colonização, uma vez que os escravos vieram e trouxeram elementos de sua cultura, promovendo uma verdadeira miscigenação, um caldeirão étnico. No caso da figura do zumbi, especificamente, se trata de um elemento do Vodu haitiano.

donnarita - conversa de cafe - srmarido - zumbis - culturapop - romero
Mas o zumbi haitiano era algo diferente do que foi promovido pelo cinema. A figura do zumbi era ligado a religião. Grandes feiticeiros do vodu eram capazes de se utilizar dos mortos para trazê-los a vida, sem consciência alguma, sem nenhum tipo de personalidade ou liberdade, para serem escravizados. O processo de criação de um zumbi envolvia ritos religiosos e a mistura de algumas drogas para deixar a cidadão lesadinho.
Não podemos deixar de lado, novamente, o contexto da de vinte e trinta em que eram comuns grandes clássicos do horror, como por exemplo os clássicos da Universal: Drácula, Frankenstein – criaturas que saíram diretamente da literatura para o cinema – dentre outros. Pronto, a semente zumbi estava plantada nesse cenário extremamente fértil, e rico.

Na década de 50 um escritor chamado Richard Matheson inovou ao escrever seu mais famoso título chamado Eu sou a lenda – uma das melhores obras que já li na minha vida. Por favor, não leve nada em consideração o que você viu no filme estrelado elo Will Smith, são obras bem diferentes. O enredo aborda a história daquele que é o último exemplo do que restou da civilização humana. O protagonista procura apenas sobreviver, e se possível, encontrar mais algum resquício da antiga civilização, vivendo cercado por essa nova espécie hegemônica. 

Eu sou a lenda é revolucionário, pois estabeleceu dois conceitos: o de um mundo apocalíptico onde a humanidade deixou de ser como era, o que sobrou pelo menos; a ideia de cerco, uma vez em que o personagem vive enclausurado, encurralado pelos vampiros. Para saber mais sobre Eu sou a lenda é só clicar nesse link maroto e ser feliz.

donnarita - conversa de cafe - srmarido - zumbis - culturapop - romero
Mas o que isso tem a ver com os filmes de zumbis?

Na década de sessenta, um jovem diretor de comerciais, uma espécie de Zé do Caixão lá da terras ao norte, chamado George Romero decidiu unir o melhor dos dois mundos e assim criou a fantástico A noite dos mortos vivos com um pequeno orçamento de cem mil dólares. Em entrevistas posteriores, Romero chegou a afirmar a forte influência de Eu sou a lenda em sua obra, e na verdade não estava pensando necessariamente em zumbis quando escreveu o roteiro, queria apenas um monstro diferente para não ser tão igual a obra de Matheson. Os elementos estavam todos ali.

Romero sempre afirmou colocar críticas sociais em suas obras. Aqui, não podemos esquecer que a década de sessenta foi muito turbulenta nos Estados Unidos, onde as ditas “minorias” estavam lutando pro direitos civis. Época de grandes personagens como Malcom X, Martin Luther King, dentre outros. A América da década de sessenta passava por uma política de segregação que beneficiava os brancos em detrimentos dos demais, por isso havia muito motivo para manifestações e lutas sociais.

Essa crítica pode ser percebida na maneira como o protagonista negro se encontra encurralado, agredido por uma horda de seres não pensantes. Um negro procurando sobreviver sofrendo uma repressão. Só o fato de colocar um protagonista negro já significava um ato revolucionário, e por isso abalou alguns alicerces da sociedade americana.

As obras posteriores foram permeadas de criticas ao modo de consumista da sociedade americana, e também aos projetos imperialistas do governo Bush.

donnarita - conversa de cafe - srmarido - zumbis - culturapop - romero
Na década e oitenta, os zumbis transpuseram as barreiras do cinema e dos filmes trash. Aprenderam a dançar ao som de Michael Jackson.

donnarita - conversa de cafe - srmarido - zumbis - culturapop - romero

Na década de noventa romperam mais uma barreira e passaram para o mundo dos jogos em uma das franquias mais rentáveis de todo o mundo – Resident Evil -, para depois retornarem novamente para os filme ruins e seriadinhos de gosto bem duvidoso.

Teve até um romance envolvendo um zumbi, isso é que é se adaptar ao que o mercado pede.

donnarita - conversa de cafe - srmarido - zumbis - culturapop - romero
Infelizmente, o nosso querido Romerão faleceu em 15 de Julho de 2017. Morreu durante o sono após uma breve, porém cruel, batalha contra o câncer. Morreu o homem, porém não as ideias, não o mito. 

A influência de suas obras perdura mais do que nunca, sendo retratado ainda em filmes, jogos, séries televisivas e por aí vai.

Fica aqui a minha singela homenagem, um pouco atrasado claro, a esse homem e a essa criatura que me fez querer que o mundo se acabe em um grande apocalipse zumbi.

E se você chegou até aqui não deixe de dar uma conferida aqui nesse gameplay bem maroto de Dying Light.
Até a próxima…